O texto da coluna de hoje é um assunto muito importante que atinge muitas mulheres no mundo inteiro, mas ainda é tratado com muita falta de conhecimento, a endometriose.

E quem vai explicar por que a endometriose é a maior causa de infertilidade nas mulheres, é o Dr. Marcelo Marinho, Médico da Fertipraxis.

ENDOMETRIOSE: POR QUE É A MAIOR CAUSA DE INFERTILIDADE NAS MULHERES?

A Endometriose é uma doença, um processo de natureza benigna caracterizado pela presença anômala de glândulas e estroma endometriais fora da cavidade uterina, ou seja, do endométrio, podendo acometer órgãos da pelve, como os ovários, trompas, bexiga, intestinos, etc.

A literatura médica diverge ligeiramente quanto à sua prevalência nas mulheres em idade reprodutiva, mas de modo geral, estima-se que esteja presente de 5 a 15% delas. E entre os casos de Endometriose, algo em torno de 30 a 50% estão no grupo das mulheres inférteis. Ou seja, mulheres com endometriose tem muito mais possibilidades de serem inférteis.

É uma doença de características clínicas variáveis, sendo a forma mais grave, dita profunda, marcada por quadro doloroso que pode ser devastador. O sintoma mais frequente é a dor na região pélvica, cíclica, mais intensa antes e durante a menstruação (dismenorréia), podendo ser restrita à pelve ou irradiar-se para outras partes do corpo, como região lombar e membros inferiores. Muitas pacientes também referem dor intensa durante a relação sexual.

Ainda hoje, a literatura especializada não é unânime em apontar os mecanismos pelos quais a doença leva a infertilidade, sendo afetadas tanto a função ovariana, como das trompas, assim como a receptividade endometrial à implantação do embrião. Sua prevalência é tão aumentada nas mulheres inférteis, de modo a ser uma das principais causas de procura às clínicas especializadas e uma das causas mais comuns de indicação de fertilização in vitro (FIV).

Sabe-se que a gravidade da doença influencia diretamente nos resultados dos tratamentos, mesmo nos tratamentos de alta complexidade, como a FIV. Assim, as pacientes com quadro de endometriose profunda têm taxas cumulativas de gestação e de nascidos vivos mais baixas. As causas para isso vão desde a qualidade dos óvulos até a receptividade endometrial, notadamente comprometidas nas pacientes com endometriose, segundo diversos trabalhos recentes.

Pensando em maior efetividade dos tratamentos, algumas estratégias são consideradas úteis e necessárias quando da individualização dos casos. Assim, diferentes formas de estímulo ovariano podem ser consideradas, dependendo do caso; a cirurgia prévia à FIV também tem sido motivo de discussão na última década. Embora o tratamento cirúrgico prévio possa aumentar a taxa de gestação, particularmente nas pacientes com endometriose profunda, os dados de análise estatística são ainda conflitantes, não trazendo benefício nos casos leves.

Com relação aos casos de endometriose profunda, os trabalhos ainda não são absolutamente conclusivos, sendo que as revisões mais recentes mostram que, apesar de melhora clínica da dor, parece não haver benefício quanto aos resultados reprodutivos. Contudo, alguns trabalhos demostram melhora nas chances de engravidar em FIV após a cirurgia nos casos de endometriose profunda, sendo ainda um tema complexo, devendo cada caso ser bem individualizado.

Outra proposição para os casos de endometriose é a modalidade de freeze all, ou seja, o congelamento de todos os embriões para transferência em ciclos posteriores, todas elas possibilidades a serem abordadas por médico com experiência em reprodução. Por fim, sabe-se que a endometriose é uma doença que reduz as possibilidades de gravidez, seja por meio natural quanto por tratamento especializado. Outros possíveis fatores causadores de infertilidade devem ser cuidadosamente investigados e cada caso deve ser individualizado com o objetivo de se propor o tratamento mais adequado.

Deste modo, para alguns casais a FIV pode ser a primeira escolha e, para outros, como a endometriose profunda, a cirurgia pode ser considerada, principalmente em caso de falha da FIV anterior. Atenção especial deve ser dada a uma cuidadosa avaliação da reserva ovariana, que pode estar comprometida, ou mesmo piorar após um tratamento cirúrgico nos ovários, assim como a possibilidade de adenomiose, frequentemente associada à endometriose, e que requer uma abordagem especial.

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