As últimas décadas foram marcadas por rápidos e notáveis avanços observados no campo da Medicina Reprodutiva, com informações científicas que são introduzidas de modo rápido a todas as partes do mundo. Entretanto, as possibilidades como estas técnicas se aplicam e podem chegar às pessoas dependem de diversos aspectos sociais, econômicos e culturais. Resulta, portanto, um grande desafio social, principalmente quando o acesso a elas não é universal.

E, as sociedades também não estão estacionadas nas suas demandas e necessidades. Dados recentes dão conta de que a população mundial aumenta a uma razão de 1,2 % ao ano, o mesmo que aproximadamente 80 milhões de pessoas todos os anos. Segundo essas estimativas, a população mundial passará de 7,5 bilhões de pessoas, em 2017, para 9.8 bilhões, em 2050. Ao mesmo tempo, a população infértil, ou seja, com dificuldades para engravidar, também aumenta, por se retardar o momento quando se começa a buscar a gravidez. Se formos comparar as histórias de duas gerações anteriores nas nossas próprias famílias, vamos nos surpreender ao verificar a idade em que nossas mães e avós tiveram seu primeiro bebê.

No Brasil o IBGE mostra que as mulheres tendo menos filhos do que há 10 anos, o número de crianças nascidas por mulher diminuiu, enquanto aumentam proporcionalmente os registros de nascimentos em mulheres de 30 a 39 anos.

Por que há este retardo em se pensar na gravidez? Novamente, é uma constatação global mas facilmente verificada também em nosso meio. Os indivíduos jovens, homens e mulheres, retardam em sair de casa, têm dificuldades claras em entrar no mercado de trabalho, desejam se aperfeiçoar mais e progredir na carreira, buscam outras prioridades antes de buscar a sua prole e…a própria estrutura social mudou. Há uma indefinição em qual seria este momento, da parte dos homens e das mulheres, e fica-se tentando um momento ideal, que não chega.

Idade, qualidade – E aí entra a biologia, o ciclo da vida, o tic tac do relógio biológico que aflige as mulheres. Para os homens, a produção dos espermatozoides se renova a cada 65 dias, enquanto para as mulheres estes prazos são apertados, pois se uma mulher nasce com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos, eles são o seu capital que vai se distribuir ao longo de sua vida, até a menopausa. Quando a menina chega na puberdade, já são em torno de 300 mil pelos processos fisiológicos que vão ocorrendo durante a infância. Estima-se que uns 300 ou 400 serão aqueles que, durante os seus anos de possibilidade reprodutiva, espontaneamente poderiam ser preparados para ovular e receber um espermatozoide. A questão é básica, eles vão sendo utilizados, gastos e terão sempre biologicamente a idade de sua portadora.

Se hoje sabemos que para o homem estas questões de tempo passam a ser importantes após 40 anos (claro, ele renova a produção mas o organismo masculino se ressente de tudo o que o homem já viveu), para a mulher esta repercussão do tempo é mais drástica: esta reserva ovariana, como chamamos, vai diminuindo e perdendo qualidade. Aqui temos um ponto crucial de informação: Esta qualidade dos gametas ( óvulos e espermatozoides), vai se refletir na hora da formação dos embriões, seja espontaneamente, seja numa fertilização que esteja sendo promovida no laboratório.

Assim, a qualidade dos embriões formados vai caindo com o tempo, explicando porque a idade das mulheres (a partir de 35 anos) e dos homens (a partir de 40anos) vai interferindo negativamente. Estas alterações resultantes, chamadas medicamente de aneuploidias, correspondem a alterações de número ou forma dos cromossomos. Lembrar que cada um de nós tem 23 pares destes cromossomos, numerados de 1 a 23. O par 23 , XX ou XY, define o sexo do indivíduo e se as quantidades não estão adequadas, temos grande parte das explicações de não engravidar, de abortamentos precoces espontâneos, de ultrassonografias com presença do saco gestacional sem embrião, do batimento do coração que para subitamente, de alterações outras maiores ou menores, que podem ainda ser incompatíveis com a vida ou definir algumas doenças ou síndromes. Quem ainda não ouviu uma história parecida na família ou com amigos, embora bem menos comum nas idades mais jovens?

Reportagem completa em:
https://www.ofluminense.com.br/pt-br/sa%C3%BAde/reprodu%C3%A7%C3%A3o-assistida-tempo-de-planejar