No mês de conscientização da infertilidade, especialistas alertam para o tratamento preventivo da doença que afeta 7 milhões de mulheres no Brasil
Junho é o mês de conscientização da infertilidade e uma ótima oportunidade para falar de uma doença que virou um fantasma na vida das mulheres. A Endometriose é uma das principais causas da infertilidade feminina. A doença foi descrita pela primeira vez nos anos 1850, de lá pra cá os estudos e as formas de tratamento evoluíram, mas o número de casos ainda é elevado, muitas vezes, por causa do atraso no diagnóstico e até por desconhecimento de muitas mulheres sobre os sintomas. Para a especialista em Reprodução Humana Dra. Maria do Carmo Borges de Souza, da clínica Fertipraxis, é fundamental fazer exames preventivos regulares, manter um bom estilo de vida, uma boa qualidade de cuidados alimentares e físicos para prevenir a endometriose “É sempre importante divulgar que ela (a endometriose) é uma doença que pode causar sofrimento às mulheres e afetar até a sua capacidade reprodutiva. Por isso, é preciso que todos se conscientizem que o diagnóstico precoce pode ser fundamental na luta contra a doença”, afirma a médica.
O que é endometriose?
O endométrio que reveste a cavidade uterina é fininho no início do ciclo menstrual porque as células descamaram. Na medida, que o ciclo vai evoluindo, se a mulher não usa contraceptivos, ele vai espessando, quando chega no período pré-ovulatório o endométrio está pronto para receber, implantar e acolher o embrião, e se não há gestação, ele descama.
Nessa hora, em 80% das mulheres algumas dessas células, junto com o sangue, caem na cavidade abdominal ou circulam pela corrente sanguínea. O problema surge quando essas células não entendem que estavam sendo descartadas e se acumulam junto ao útero, perto da bexiga, perto do intestino, nos ovários ou até em outro lugar do corpo em que as células entendam que ali é o útero. “Quando vem um novo ciclo menstrual, essas células, que deveriam ter ido embora, proliferam e na hora que o endométrio descama, ele sangra e esse sangramento, seja microscópico ou visível, causa irritação – por estar num lugar onde não deveria estar – e dor forte na região onde essas células se concentraram”, completa a Dra. Maria do Carmo.
Quais são os sintomas da endometriose?
Um dos principais sintomas que ajudam a identificar a endometriose e contribuem para o diagnóstico precoce são as cólicas menstruais muito intensas e progressivas. “Uma cólica muitas vezes incapacitante”, dimensiona o Dr. Marcelo Marinho, também especialista em reprodução humana. “Há mulheres que não conseguem trabalhar, sentem náuseas, tem enjôo, vômito, dor de cabeça, não conseguem sequer se levantar e ainda ouvem pessoas em volta dizendo que é frescura o que elas estão sentindo”, aponta.
Uma outra percepção importante do sintoma, segundo o médico, é quando a mulher, no período menstrual, sangra quando evacua ou ao urinar. Mas o médico alerta que a endometriose pode ser silenciosa e não apresentar qualquer sintoma. “Nesses casos, a doença só pode ser identificada em exames ginecológicos com um aumento dos ovários ou uma massa abdominal palpável”, completa.
O diagnóstico por médicos de outras especialidades
De uma maneira geral, a endometriose é associada a dores no aparelho reprodutivo da mulher. Mas o que pouca gente sabe é que ela pode surgir em outras partes do corpo e os médicos de outras especialidades podem ajudar na cruzada contra a doença. “Num exame solicitado por um colega de outra especialidade clínica é possível encontrar a endometriose nos rins, no pulmão ou até dentro do olho”, aponta o Dr. Roberto Antunes, também da Fertipraxis.
Como tratar a endometriose?
De acordo com o Dr. Roberto, as mulheres podem apresentar endometriose em qualquer fase da idade reprodutiva, na pré-menopausa ou até na menopausa, especialmente, naquelas mulheres que se submetem a tratamentos hormonais. A primeira medida é tratar os sintomas com o bloqueio hormonal interrompendo o ciclo menstrual. Esse bloqueio pode ser feito por meio de comprimidos, injetáveis e até pela cirurgia laparoscópica. “A cirurgia minimamente invasiva é menos agressiva, combate a dor e libera as aderências de trompa facilitando a gestação”, acrescenta.
O Dr. Marcelo relata, no entanto, que nos casos mais graves da doença o tratamento cirúrgico pode levar a retirada dos ovários ou mesmo do útero. “Tudo vai depender da idade da mulher, dos objetivos e expectativas dela e o estágio em que a doença se encontra. Numa mulher jovem, no auge da sua capacidade reprodutiva, a preocupação deve ser preservar a todo custo a fertilidade. Já na mulher mais velha, normalmente já com filhos, o objetivo deve ser aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dela”, pondera.
A endometriose é um fantasma na vida das mulheres, mas saber que é uma doença que pode ser vencida com medidas preventivas e diagnóstico precoce é uma boa notícia nesse mês de conscientização da fertilidade. “Mas não se engane, a endometriose é uma patologia. A pessoa pode pensar que está curada, mas de repente voltam todos os sintomas e todo o sofrimento. Portanto, faça exames preventivos sempre”, finaliza a Dra. Maria do Carmo.