Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado mundialmente em 8 de março, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) vai produzir matérias especiais sobre aspectos relacionados ao papel da reprodução assistida para a mulher no século XXI. Ao longo do mês, traremos 3 entrevistas com protagonistas femininas na área, que abordarão os avanços, os benefícios e a importância das técnicas para a realidade de muitas famílias.
Com a projeção do sexo feminino no mercado de trabalho, é cada vez mais comum o adiamento da gravidez. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o fim da década de 1990, o número de mulheres que se tornaram mães depois dos 40 anos aumentou 88,5% — passou de 48.402, em 1998, para 91.212, em 2018. Os dados também mostram que, no início dos anos 2000, cerca de 615.705 crianças nascidas vivas tinham mães entre 30 a 44 anos. Quase 20 anos depois, no final de 2018, o número de crianças com mães nessa faixa etária era de 1.054.016.
Para estrear este espaço especial, entrevistamos a presidente da SBRA, a médica Hitomi Nakagawa, que falará sobre o cenário atual da reprodução assistida no Brasil, seus avanços e perspectivas e sobre o futuro da área, reforçando os benefícios das técnicas que têm realizado sonhos de casais e das novas formações familiares modernas, assegurando às mulheres com câncer, por exemplo, o direito de gestar após a realização do tratamento. Confira a entrevista!
Em um momento em que tanto se fala da participação feminina no mercado de trabalho e do empoderamento da mulher, o que representa para a senhora estar à frente de uma sociedade médica como a SBRA?
Hitomi Nakagawa – Meu compromisso à frente da Presidência da SBRA é o mesmo que sempre tive como médica: colaborar com o crescimento técnico da reprodução assistida, visto que, com o nosso trabalho, podemos auxiliar pessoas com dificuldade para engravidar (por causa da idade avançada ou doenças) ou novos modelos de família – a tecnologia, inicialmente desenvolvida para tratar a infertilidade, hoje beneficia pessoas com problemas de procriação. Além de contribuirmos na divulgação de informações confiáveis desse tema tão cercado de mitos e preconceitos para que as pessoas possam ter elementos e decidir sobre suas vidas. Neste sentido, para mim, é muito gratificante estar à frente da SBRA, uma entidade médica que trabalha constantemente em função das mulheres. Inclusive, é perceptível o aumento
da participação de médicas, pesquisadoras e cientistas mulheres em todas as áreas da reprodução assistida. São embriologistas, psicólogas, geneticistas, biólogas, enfermeiras, administradoras, nutricionistas e de muitas outras especialidades médicas que têm interface com a área. A beleza e os encantos dessa profissão que contribui tanto para o tratamento de doenças quanto para a realização do sonho de completar famílias são incalculáveis e gratificantes.
A reprodução assistida completa 42 anos neste ano,desde a realização da primeira fertilização in vitro, em 1978, com Louise Brown. A técnica surgiu para ajudar casais com dificuldade para engravidar, mas hoje vai além. Que outras contribuições a senhora pode destacar?
Hitomi Nakagawa – Vou separar essas contribuições em duas classes de indicações: a primeira é que a evolução técnico-científica permitiu que o conceito de reprodução assistida fosse desvinculado do de infertilidade. Na realidade, a ajuda é para que as pessoas possam exercer a perpetuação da espécie. Sendo assim, eu gostaria de destacar algumas contribuições que considero importantes: mulheres com doenças que podem prejudicar a fertilidade – sejam benignas, como a endometriose, ou malignas, como o câncer – e que necessitam de tratamentos radicais ou remoção de órgãos que possam prejudicar a fertilidade, a exemplo de lesões ovarianas; outra contribuição é para evitar que os bebês de pais portadores de HIV nasçam com o vírus; outra ainda é ajudar casais com histórico de doença hereditária e que corram
o risco de ter a doença, com uma qualidade de vida deplorável, morte precoce ou até distúrbios mentais que a impeçam de levar uma vida independente. A biópsia embrionária ou o estudo genético do embrião permite o nascimento do bebê com saúde e até a eliminação
da doença da família a partir daquela geração. Além disso, essas técnicas ajudam famílias que têm um bebê com alguma doença incurável a não ser por transplante de células e desejam ter outro filho, mas não querem correr o risco de terem o irmãozinho com o mesmo
problema de saúde. Esse irmãozinho pode, inclusive, nascer com compatibilidade para ser doador do irmão doente e curá-lo por meio do sangue do seu cordão umbilical. Essas seriam, também, possibilidades terapêuticas dessas técnicas da reprodução assistida.
As outras contribuições são demandadas por conta do surgimento de novos modelos familiares, como a família monoparental, constituída exclusivamente pela presença de apenas um dos genitores; a família de pai com pai, de mãe com mãe; ou famílias que adiam a gestação por causa da carreira profissional ou outras razões (devemos lembrar que segundo o IBGE-2019, 37% das mulheres não querem ser mães, mas parte delas podem voltar atrás na decisão). Em todos os casos, é a preservação dos óvulos para ter bebês em uma fase futura da vida.
Leiaa entrevista completa em: https://sbra.com.br/noticias/especial-mes-das-mulheres-presidente-da-sbra-fala-sobre-os-desafios-da-reproducao-assistida-na-atualidade/