Estudo mostra que quanto mais baixos são os índices de vitamina D no organismo menores são as taxas de gravidez nos tratamentos de fertilização in-vitro.

O processo de formação da vitamina D ocorre na pele e é dependente dos raios solares do tipo UVA e UVB, mas com a chegada dos meses mais frios do ano o tempo de exposição ao sol diminui e há uma queda nas taxas de vitamina D. O ginecologista e especialista em Reprodução Humana, Dr. Roberto de Azevedo Antunes, Diretor-médico do Centro de Reprodução Humana Fertipraxis, afirma que mesmo em países com alta incidência de exposição solar, como é o caso do Brasil, uma parcela cada vez maior da população encontra-se com níveis insuficientes ou deficientes de vitamina D, o que faz com que toda a comunidade médica tenha que ficar atenta. O crescente déficit de vitamina D entre a população pode levar ao descontrole e/ou surgimento de uma série de doenças e interferir diretamente na fertilidade dos casais, como esclarece a seguir o Dr. Roberto:

1- Qual a atuação da vitamina D no sistema imunológico?

RAA – A vitamina D parece ter uma ação sobre a regulação as células da imunidade inata, como as células apresentadoras de antígenos, células NK, alguns tipos de linfócitos T e B e sobre os monócitos. Sua ação parece promover um estado imunológico mais tolerante no organismo. Estima-se que a sua suplementação possa produzir um efeito benéfico em diversas patologias relacionadas a autoimunidade, como na psoríase, diabetes melitus tipo1 e no lúpus eritematoso sistêmico.

2- A deficiência da vitamina D pode diminuir as chances de engravidar?

RAA – Ainda não se sabe ao certo. Com certeza a vitamina D influencia de alguma maneira os processos reprodutivos. Contudo, não se sabe ao certo como se dá esse controle. Até o momento existem estudos que mostram que pacientes com baixos níveis de vitamina D podem ter menores chances de gravidez, assim como existem várias publicações que concluíram que os níveis de vitamina D não afetaram as chances de se conseguir uma gestação. Portanto, até o momento, não há uma recomendação formal de se pesquisar a vitamina D como rotina do casal infértil, muito embora, dado o número de pesquisas sobre o tema, isso possa mudar a qualquer momento.

3- É verdade que a vitamina D pode evitar que a gestante rejeite a implantação do embrião, seja por tratamento de fertilização in vitro ou pela gravidez espontânea?

RAA – Não. Existem muitas causas que podem levar uma paciente a evoluir para um abortamento ou uma falha de implantação seja quando a formação do embrião se dá espontaneamente, seja quando ocorre in vitro. Atribuir a deficiência de vitamina D como uma das possíveis causas é muito discutido na literatura. Se por um lado, pacientes com baixos níveis de vitamina D apresentaram, em algumas pesquisas um aumento das taxas de abortamento e de falhas de implantação, por outro, a reposição de vitamina D não pareceu corrigir o problema. Assim sendo, no momento ainda não é possível afirmar que os baixos níveis dessa vitamina são a causa desse ponto.

4- Qual a atuação da vitamina D na qualidade dos espermatozoides?

RAA – Baixos níveis de vitamina D parecem estar relacionados a diminuições da concentração de espermatozoides no sêmen, bem como da motilidade dos mesmos. Além disso, algumas publicações sugerem que homens inférteis, possuem menores concentrações de vitamina D do que aqueles que possuem filhos.

5- A deficiência da substância durante a gravidez pode aumentar a incidência de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e parto prematuro?

RAA – Existem evidências que sugerem que diminuições das concentrações de vitamina D estão relacionadas com o surgimento de intercorrências ao longo da gravidez como a diabetes gestacional, a pré-eclâmpsia e a ocorrência de partos prematuros. Essas assertivas foram definidas após uma revisão sistemática da literatura médica que compreendeu 31 estudos, publicada em 2013. Contudo, ainda são alvo de debate e discussão tendo em vista que estudos posteriores falharam em mostrar melhora desses desfechos com a reposição de vitamina D.

6- A concentração inadequada pode estar relacionada com fatores de infertilidade?

RAA – Pode sim. Sabemos que a vitamina D possui ações sobre o processo de ovulação e sobre a modulação de fatores inflamatórios intra e extrauterinos. Além disso, o fato de baixos níveis dela estarem correlacionados com condições como a síndrome dos ovários policísticos e a endometriose reforçam essa ideia. Por fim, nos homens, é sabido que a baixa concentração de vitamina D está associada a diminuição da concentração e motilidade dos espermatozoides no sêmen.

7- Quais as indicações/tratamento para as pessoas que desejam engravidar e possuem deficiência de vitamina D?

RAA – Esse é o ponto mais controverso na literatura médica. O Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG), em conjunto com o Instituto de medicina (IOM) recomenda apenas a reposição basal de 600UI dia de vitamina D para pacientes saudáveis que estejam buscando a gravidez. O uso de doses superiores a essa, buscando a correção dos níveis baixos de vitamina D, visando a melhora de resultados de tratamentos de infertilidade ou de desfechos obstétricos, não é respaldada até o momento. Isso se dá em função dos resultados abaixo do esperado de estudos que tentaram essas reposições utilizando maiores doses de vitamina D. Contudo, esse é um tema em constante evolução, dado o elevado número de pesquisadores trabalhando em cima dele. Assim, novidades sobre ele podem surgir a qualquer momento.

Reportagem completa:
https://www.terra.com.br/noticias/dino/7-duvidas-sobre-vitamina-d-e-infertilidade,9072dee9800963d65d28859c34e2e0f4b9gzwalx.html